A Demissão e a Reconciliação de Cândido de Oliveira (1934)
Rubrica 100 Anos em 100 Dias
03 setembro 2024
Centenário
Nestes primeiros tempos do associativismo desportivo, em que os corpos gerentes (como então se dizia) só tinham mandato por um ano, era frequente as Direções serem sujeitas a grandes pressões dos Clubes, sobretudo na contestação às penalizações de jogadores, sendo assim frequentemente eram desrespeitadas. Também a Associação de Futebol de Santarém padeceu desse mal, como, de resto, já aqui havíamos referido em artigo anterior.
E o mandato de Cândido de Oliveira não foi imune a essa moléstia. De tal modo que a Assembleia Geral de 24 de abril de 1934 tem como ponto única a apresentação da demissão da sua Direção da AFS, precisamente por se sentir desrespeitado.
Foi uma Assembleia Geral concorrida e a intervenção inicial do presidente da mesa, Alfredo da Silva Leitão, marca o tom geral da reunião: grandes encómios ao presidente da Direção, lamentando as causa que o levaram a pedir a demissão. Disse mais, apontou Cândido de Oliveira “como modelo e pessoa desejada (…) como técnico e dirigente”, pelo que “Santarém muito tinha a honrar-se com a sua presença à frente da sua Associação de Foot-Ball”; palavras que foram sublinhadas com “grande salva de palmas da assistência”.
Cândido de Oliveira explanou depois as razões que levaram a sua Direção a apresentar a demissão. Segundo a ata da reunião que estamos a referir, “relatou diversos incidentes ocorridos durante a sua gerência e que bastante o magoaram”, dado a sua postura que “sempre foi baseada no espírito de justiça e de isenção”; pelo que desistiu de continuar a dirigir a Associação de Futebol “para não criar um ambiente de hostilidade, que não merece e que não deseja provocar, dada a sua situação de permanência acidental nesta cidade”.
Quando o presidente da mesa passa a palavra à assistência, sucede-se um rol de autocríticas e pedidos para que a Direção continue.
João Costa é o primeiro a exprimir pesar pela situação criada, pormenorizando as razões da sua ação quanto ao castigo imposto ao seu jogador Camilo Lavareda; apresentando depois os desejos do seu Clube para que o Sr. Cândido de Oliveira continue a exercer o cargo de presidente da Direção.” Miguel Vaz Mourão rebate de imediato as afirmações “quanto à hipotética doença do jogador Camilo Lacerda.”
Já Fausto Oliveira pede desculpa a Cândido de Oliveira por uma frase “ofensiva da sua dignidade” proferida por ele nas Caldas da Rainha; e acrescenta: “foi dita impensadamente e por estar despeitado por uma deliberação da Direção quanto à aceitação de uma ficha de um jogador do Spot Lisboa e Santarém e ao castigo imposto a outro”.
Cândido de Oliveira pede então a palavra para elucidar João Costa “quanto à errada interpretação que ele deu a uma das suas frases; e ao Sr. Fausto explica a maneira lógica e consciente como são orientadas a resoluções tomadas pela Direção”.
Henrique Vigário, delegado do Sport Grupo Scalabitano “Os Leões”, também apresenta à Direção demissionária “as suas desculpas por qualquer incidente que o seu Clube involuntariamente tenha provocado, manifestando a sua confiança absoluta na Direção e estando pronto a associar-se a todas as manifestações que se façam para que esta desista do seu pedido de demissão.”
Por fim, Francisco Gaspar pede à Assembleia geral “para terminar de vez com as discussões de incidentes ocorridos”, e apresenta uma proposta por escrito para “que seja dada à Direção um voto de louvor e de confiança por aclamação”; isto depois de rasgados elogios a Cândido de Oliveira e à forma como sempre soube resolver com justiça todos os “bicos de obra” que surgiram na sua gerência, “sendo uma grande honra para todos nós que seja um homem desta têmpera a presidir ao organismo dirigente do Foot-Ball Distrital.”
Cândido de Oliveira agradeceu a confiança com que a Assembleia o distinguiu, a ele e aos seus colegas de Direção, para concluir da sua disponibilidade em continuar na Direção até ao final do seu mandato.
Final que chegaria a 28 de julho desse ano de 1934, data da Assembleia Geral que elegeria os novos corpos gerentes, e que ficaram assim constituídos:
Direção: presidente, Engº Manuel Barata Graça; vice, Joaquim Vicente Serrão; secretários, Agostinho Mariano e Francisco Valente; tesoureiro, Manuel da Silva Confraria; vogais, José Ferreira Lanceiro e António Mendes. A presidir a Assembleia Geral continuava o Dr. Alfredo da Silva Leitão; e João Ferreira como presidente do Conselho Fiscal.