Nestes primeiros tempos do associativismo desportivo, em que os corpos gerentes (como então se dizia) só tinham mandato por um ano, era frequente as Direções serem sujeitas a grandes pressões dos Clubes, sobretudo na contestação às penalizações de jogadores, sendo assim frequentemente eram desrespeitadas. Também a Associação de Futebol de Santarém padeceu desse mal, como, de resto, já aqui havíamos referido em artigo anterior.

E o mandato de Cândido de Oliveira não foi imune a essa moléstia. De tal modo que a Assembleia Geral de 24 de abril de 1934 tem como ponto única a apresentação da demissão da sua Direção da AFS, precisamente por se sentir desrespeitado.

Foi uma Assembleia Geral concorrida e a intervenção inicial do presidente da mesa, Alfredo da Silva Leitão, marca o tom geral da reunião: grandes encómios ao presidente da Direção, lamentando as causa que o levaram a pedir a demissão. Disse mais, apontou Cândido de Oliveira “como modelo e pessoa desejada (…) como técnico e dirigente”, pelo que “Santarém muito tinha a honrar-se com a sua presença à frente da sua Associação de Foot-Ball”; palavras que foram sublinhadas com “grande salva de palmas da assistência”.

Cândido de Oliveira explanou depois as razões que levaram a sua Direção a apresentar a demissão. Segundo a ata da reunião que estamos a referir, “relatou diversos incidentes ocorridos durante a sua gerência e que bastante o magoaram”, dado a sua postura que “sempre foi baseada no espírito de justiça e de isenção”; pelo que desistiu de continuar a dirigir a Associação de Futebol “para não criar um ambiente de hostilidade, que não merece e que não deseja provocar, dada a sua situação de permanência acidental nesta cidade”.

Quando o presidente da mesa passa a palavra à assistência, sucede-se um rol de autocríticas e pedidos para que a Direção continue.

João Costa é o primeiro a exprimir pesar pela situação criada, pormenorizando as razões da sua ação quanto ao castigo imposto ao seu jogador Camilo Lavareda; apresentando depois os desejos do seu Clube para que o Sr. Cândido de Oliveira continue a exercer o cargo de presidente da Direção.” Miguel Vaz Mourão rebate de imediato as afirmações “quanto à hipotética doença do jogador Camilo Lacerda.”

Já Fausto Oliveira pede desculpa a Cândido de Oliveira por uma frase “ofensiva da sua dignidade” proferida por ele nas Caldas da Rainha; e acrescenta: “foi dita impensadamente e por estar despeitado por uma deliberação da Direção quanto à aceitação de uma ficha de um jogador do Spot Lisboa e Santarém e ao castigo imposto a outro”.

Cândido de Oliveira pede então a palavra para elucidar João Costa “quanto à errada interpretação que ele deu a uma das suas frases; e ao Sr. Fausto explica a maneira lógica e consciente como são orientadas a resoluções tomadas pela Direção”.

Henrique Vigário, delegado do Sport Grupo Scalabitano “Os Leões”, também apresenta à Direção demissionária “as suas desculpas por qualquer incidente que o seu Clube involuntariamente tenha provocado, manifestando a sua confiança absoluta na Direção e estando pronto a associar-se a todas as manifestações que se façam para que esta desista do seu pedido de demissão.”

Por fim, Francisco Gaspar pede à Assembleia geral “para terminar de vez com as discussões de incidentes ocorridos”, e apresenta uma proposta por escrito para “que seja dada à Direção um voto de louvor e de confiança por aclamação”; isto depois de rasgados elogios a Cândido de Oliveira e à forma como sempre soube resolver com justiça todos os “bicos de obra” que surgiram na sua gerência, “sendo uma grande honra para todos nós que seja um homem desta têmpera a presidir ao organismo dirigente do Foot-Ball Distrital.”

Cândido de Oliveira agradeceu a confiança com que a Assembleia o distinguiu, a ele e aos seus colegas de Direção, para concluir da sua disponibilidade em continuar na Direção até ao final do seu mandato.

Final que chegaria a 28 de julho desse ano de 1934, data da Assembleia Geral que elegeria os novos corpos gerentes, e que ficaram assim constituídos:

Direção: presidente, Engº Manuel Barata Graça; vice, Joaquim Vicente Serrão; secretários, Agostinho Mariano e Francisco Valente; tesoureiro, Manuel da Silva Confraria; vogais, José Ferreira Lanceiro e António Mendes. A presidir a Assembleia Geral continuava o Dr. Alfredo da Silva Leitão; e João Ferreira como presidente do Conselho Fiscal.